sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

50º GRAU - DORES DE CRESCIMENTO

Adormeceu ao meu colo. Bem, não exactamente ao meu colo que ele já é maior do que eu. Mas adormeceu atirado para cima de metade de mim. O cabelo aloirado apoiado na minha perna. Lembro-me quando era pequeno e eu ficava muito quieta para que adormecesse. Estava atirado para cima de metade de mim e suspirou tal e qual como suspirava quando era bebé e depois criança. O sinal irrefutável de que estava profundamente adormecido. Adormeceu atirado para cima de metade de mim e a mão, outrora minima, agarrava as minhas calças como agarrava em bebé num medo que nunca entendi de que eu desaparecesse. Como se receasse adormecer e perder-me para sempre. E eu olho aquele corpo gigante de criança já a querer ser crescido e estranho o tamanho, mas fecho os olhos e todos os sons e toques e cheiros me são familiares. Continuam a ser os sons e cheiros e toques daquele que um dia foi e para sempre será o meu bebé. Ainda que eu abra os olhos e me interrogue quem é aquele rapaz que adormece atirado para cima de metade de mim.

1 comentário:

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